" É a extrema sensibilidade que faz os atores medíocres: é a sensibilidade medíocre que faz a multidåo dos maus atores; e é a falta absoluta de sensibilidade que prepara os atores sublimes. as lágrimas do comediante lhe descem de seu cérebro; as do homem sensível lhe sobem do coraçåo.
Os gestos de desespero de um ator såo decorados, ele conhece o momento exato em que ha de tirar o lenço e em que as lágrimas håo de rolar; esperai-as a esta palavra, a esta sílaba, nem mais cedo nem mais tarde.
Este tremor da voz, estas palavras suspensas, estes sons sufocados ou arrastados, estes furores, estes desfalecimentos, pura imitaçao, liçåo recordada de antemåo, trajeto patético, macaquice sublime de que só o ator guarda lembranças muito tempo depois de ter estudado, de que tinha conciencia presente no momento em que a executava, e que lhe deixa, felizmente para o poeta, para o espectador e pra ele, toda liberdade de seu espírito, e que nåo lhe tira, assim como os outros exercícios, senåo a força do corpo. Nåo lhe resta nem perturbaçåo, nem dor, nem melancolia, nem abatimento de alma. Sois vós que levais convosco todas essas impressoes. O ator esta cansado e vós, tristes; é que ele se agitou sem nada sentir, e vós sentistes se vos agitar. Se fosse de outro modo, a condiçåo de comediante seria a mais desgraçada das condiçoes; mas ele nåo é a personagem, ele a representa e representa tåo bem que vós a tomais como tal; a ilusåo só existe para vós; ele sabe muito bem que ele nåo a é."
Quando li a primeira vez me questionei, agora nesse momento um riso ironico me toma como tal.
Poderia dizer que o Paradoxo em particular parece uma teoria da sensibilidade.
É isso ai DIDEROT (Paradoxo sobre o comediante, nov/1769).
