Antes da estreia do espectáculo, em entrevista à Lusa, Antunes Filho defendeu que "sem uma função social, sem proporcionar confraternização, o teatro, como toda a arte, não tem sentido, é uma masturbação".
Antunes Filho, 80 anos, considerado o mais importante encenador brasileiro vivo, sublinhou que, para cumprir essa função social, o espectáculo tem de ter "o mais elevado nível estético".

"Se eu não me empenhar em dar a mais elevada qualidade artística possível ao espectáculo (de forma que as pessoas se sintam mais irmanadas no final), estou a lesar a sociedade, porque o que eu procuro em cada espectáculo é a confraternização. Se não conseguir, falhei",
afirmou.

Antunes Filho sublinha que "até agora toda a obra de arte, desde os pintores renascentistas até ao teatro moderno, tem um centro claro, onde incide a luz principal".
"O centro é enfatizado, através da luz que indica claramente ao espectador onde é que ele está, e outros elementos cénicos contribuem para reforçar essa centragem. Aqui, o meu trabalho foi no sentido contrário, de descentrar a acção".

Nesta encenação há sempre várias coisas a acontecer simultaneamente, de forma aparentemente caótica, cabendo ao espectador construir a sua própria história a partir do que sucede no palco.

"O espectáculo foi feito para espevitar a sua percepção e para ter uma leitura activa por parte do espectador. Faço tudo com o corpo e a voz dos actores sem tecnologia exterior, a não ser a luz, porque sem ela não se pode fazer o espectáculo", afirmou.

Para Antunes Filho, "A Falecida Vapt-Vupt" é um espectáculo aberto a novas relações e leituras e que pretende "experimentar alguns ângulos dessa percepção e tornar aquilo que parece improvisado, numa interferência sem sentido, feia ou inestética, numa componente fixa e significativa".

A peça permanece no TNSJ até ao próximo dia 24.

Com Lusa