ILUSTRADA
09/09/2013 - 14h46

Peça de Evaldo Mocarzel mostra casal viciado em notícias violentas

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GUSTAVO FIORATTI
DE SÃO PAULO
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As companhias veteranas de teatro no cenário de São Paulo têm lançado com certa frequência suas crias, grupos mais jovens organizados em torno de integrantes que deixaram ou que ainda pertencem ao coletivo matriz.
Esse é o caso do núcleo Vaga (Vontade de Aglomeração Artística), que surgiu a partir de um projeto de leituras e encenações realizadas pelo Teatro da Vertigem em 2010.
Desde a última sexta (6/9), o grupo apresenta seu segundo espetáculo, "Fome de Notícia", no Centro Cultural São Paulo.
A direção é de Maurício Perussi, que no ano passado fez assistência de direção para Antônio Araújo na montagem "Bom Retiro 958 Metros", espetáculo que itinerava pelo bairro do Bom Retiro, em São Paulo.
O texto de "Fome de Notícia" também tem assinatura de um dramaturgo habituado a trabalhar com o Vertigem, o cineasta e jornalista Evaldo Mocarzel.
Ele escreveu para a companhia a peça "Kastelo", em 2010, que foi encenada com atores pendurados por cordas ou circulando por andaimes do lado de fora de um edifício da avenida Paulista. Os espectadores assistiam à montagem dentro do prédio, através das janelas de vidro.
Neste novo trabalho, o núcleo Vaga ocupa um espaço já habituado a receber montagens, mas não um lugar convencional, opção que estabelece contato com a estética do Vertigem, que nunca encenou nada no palco italiano. O espaço cênico Ademar Guerra fica no porão do Centro Cultural São Paulo.
Segundo o ator Marco Biglia, um dos fundadores do núcleo, a questão de ocupação do espaço não é o único ponto de contato com os aspectos formais pesquisados pelo Vertigem. "Nossa pesquisa também coloca o ator como criador e performer", diz.
A peça tem como protagonista um casal, cujo convívio se molda a partir do noticiário de TV e dos jornais. Juntos, homem e mulher alimentam o vício de consumir informações, principalmente sobre violência.
Há menções a histórias reais, como os casos de tsunami em países da Ásia em 2004 e no Japão em 2011. O cenário funde duas ambientações, um estúdio de TV sobreposto a um apartamento, conta Perussi, o diretor da montagem.
O tema tem relação direta com a história do dramaturgo convidado. Mocarzel formou-se jornalista e trabalhou no jornal "O Estado de S. Paulo". Ele foi por oito anos editor do "Caderno 2", seção cultural do diário paulistano. Também dirigiu vários documentários, entre eles "Do Luto à Luta" (2005).